por: Gustavo Aguiar
“Quando se constrói a bomba
atômica o que se está dizendo é: eu sou adulto, eu deixei de ser criança!”
–
Enéas Carneiro
A soberania nuclear é, de longe,
uma das questões mais anatematizadas pelos veículos de comunicação de massa. A simples
menção ao assunto tem sido suficiente para provocar náuseas em uma quantidade astronômica
de brasileiros, que acredita piamente que propugnar pela
prerrogativa de um país terceiro-mundista como Brasil fabricar bombas atômicas constitui
violação frontal aos direitos humanos na comunidade internacional. Pois saiba,
prezado leitor, que isso é exatamente o que os engenheiros sociais por trás da
Organização das Nações Unidas e de Estados-títere por ela instrumentalizados
querem que você acredite.
Malgrado a História nunca ter
sido uma disciplina muito popular entre os nossos compatriotas, é de bom
alvitre recordar o período obscuro da Guerra Fria, quando o mundo esteve a um
passo de voar pelos ares feito uma tampa de chaleira em ebulição durante o chá
da tarde.
De um lado, os Estados
Unidos, detentores do monopólio da energia atômica desde Hiroshima e Nagasaki, conspiram
para transformar Cuba em seu mais novo quintal. Doutro, a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas efetivam a instalação de ogivas nucleares na ilha
caribenha.
O clima de tensão bipolar
evoluiu ao ponto de desencadear o que militares norte-americanos denominaram mutual assured destruction (acrônimo
MAD), consistente na estratégia da intimidação: um dos pólos, munido até os
dentes com o mais sofisticado arsenal de destruição em massa procura, através
da propaganda militar, acuar o adversário na expectativa de que este último recolhesse
suas coisas e fosse embora, sem deixar vestígios. Pronto! O holocausto nuclear
já não era motivo de preocupação para autoridades diplomáticas, e, ao menos
provisoriamente, o mundo podia dormir sossegado.
O problema é que o outro
lado também começa a investir maciçamente em intimidação, e as prospectivas da
corrida armamentista voltam a se tornar ameaçadoras.
Poder-se-ia
contra-argumentar, diante disso, que a Guerra Fria é a prova cabal de que
nenhuma potência do globo deveria, em quaisquer circunstâncias, titularizar o
direito de construir suas próprias tecnologias de aniquilação. Mas isso não só
é irreal, como contribui para o engessamento do debate acerca do Tratado de Não-Proliferação
de Armas Nucleares (TNP), criminosamente ratificado pelo Brasil em 1998, durante
a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Podemos extrair de tal
panorama um sem número de consequências negativas que impactaram drasticamente o
potencial de autodeterminação soberana do Estado brasileiro em face dos
interesses geopolíticos do globalismo unipolar. A primeira é intuitiva, mas não
menos importante: o território brasileiro, assim como Cuba, corre sérios riscos
de ser disputado em uma eventual bipolarização do espectro ideológico, haja
vista que a experiência nunca falhou em demonstrar que os únicos países
verdadeiramente respeitados por hiperpotências imperialistas são aqueles que,
como o Irã de Ahmadinejad, não hesitam em turbinar suas usinas de
enriquecimento de urânio, usinas estas que os EUA procuraram reiteradamente
sabotar por meio de supercomputadores quânticos projetados especificamente para
esta finalidade.
Mais perigosas do que a
bomba atômica são armas cuja existência a massa ignara, em seu estado de
catatonia induzida, não imagina sequer remotamente.
Se tem uma coisa que os estrategistas
norte-americanos aprenderam com a Guerra Fria foi que desarmar adversários em
potencial é uma maneira bastante promissora de eliminar o “segundo estágio” do
MAD (aquele em que o inimigo, provocado, se vê tentado a revidar, aumentando
significativamente a probabilidade de uma destruição em larga escala). Observe
que não estamos nos referindo a algo que pode vir a acontecer em um futuro
hipotético, mas a uma coisa que já acontece em níveis inimaginavelmente
superiores ao que estamos habituados a processar.
O povo brasileiro está tão à
mercê de incursões imperialistas quanto a Palestina das bombas de fósforo
branco israelenses. Possuir o direito de
fabricarmos nossa própria tecnologia nuclear não é, absolutamente, um privilégio,
mas uma necessidade premente que já deveria ter sido sanada há muito tempo,
como sugeriu, outrora, o injustamente vilipendiado Enéas Carneiro - que Deus o
tenha.
Fato é que tanto Fernando
Henrique quanto Luís Inácio Lula da Silva se provaram incompetentes no trato com
a soberania nacional, especificamente no tocante à questão nuclear: o primeiro
por ter municiado a fragilização do Estado brasileiro ao assinar o Tratado de
Não-Proliferação, desarmando seu próprio povo; o segundo por sugerir ingenuamente em 2009 o
desmantelamento dos arsenais nucleares de todos os países do globo, estribado
na frágil premissa de que isso não se
coaduna com os princípios “democráticos”.
As frequentes tentativas por
parte dos EUA no sentido de atrasar o desenvolvimento do programa nuclear
norte-coreano patenteiam o receio de Washington em permitir que um inimigo a
altura da extinta URSS coloque entraves à hegemonia por ele capitaneada.
Basicamente, a bomba atômica é, hoje, um dos poucos elementos hábeis a
restituir autonomia a países dessoberanizados. Se a República Popular
Democrática da Coreia do Norte ainda não foi alvo de uma guerra parecida com a
do Vietnã, isso se deve inteiramente à atitude patriótica de não abrirem mão da
defesa nacional.
A pretensa instauração de um
controle dos programas nucleares de nações soberanamente instituídas,
supostamente vocacionada para a “pacificação” dos meios de produção de energia
nuclear suscita uma questão crucial, que pode ser resumida na seguinte parêmia:
quis custodiet ipsos custodes? (quem
vigia os vigilantes?) Ora, se há controle, há um painel, e se há um painel, há
um operador. A que interesses serve o operador do painel de controle da
Organização das Nações Unidas?
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