Por: Gustavo Aguiar
“Olhemo-nos face a face. Somos hiperbóreos – sabemos muito bem
quão remota é nossa morada.” – Friedrich Nietzsche
Considerações
Iniciais:
Antes mesmo do desaparecimento misterioso das cidades perdidas de
Atlântida e Lemúria – que chegaram ao nosso conhecimento através de escassos
achados arqueológicos e menções platônicas no Timeu e no Crítias, havia Ultima
Thule (Çveta Dvipa hindu), ilha polar
e capital magnífica do continente hiperbóreo, localizada no extremo-norte da
Europa, além da morada do deus Bóreas e das colunas de Hércules, “muito além dos ventos do norte”
consoante reza a lenda. Thule fora colonizada, em período imemorial, pela
proto-raça ariana dos virya,
constituída por verdadeiros super-homens dotados da capacidade de estabelecerem
comunhão direta com suas divindades cósmico-solares durante a Idade de Ouro, na
aurora da humanidade. Há relatos mitológicos de que Apolo, o deus-sol do
panteão grego-romano, utilizava a Sabedoria Hiperbórea como fonte inesgotável de
rejuvenescimento, o que nos induz a crer que naquelas paragens o tempo não transcorria
de maneira regular.
Em Thule, a eternidade reinava soberana, possibilitando uma
correspondência imediata entre o simbólico e o arquetípico, o que permitia aos virya manipular um poderoso manancial de
energia etérea denominada Vril e
realizar maravilhas jamais contempladas por olhos humanos. “Esse poder
extraterrestre que possuíam os hiperbóreos, o órgão do Vril, Hvareno, Urna, Soma, unidos a uma técnica e ciência diferentes em sua essência às
da Kali Yuga, possibilitava-os ‘ir mais rápido que o pensamento, em barcos
aéreos sem piloto nem timão’ – tradução livre do espanhol. (SERRANO, Miguel. El
Cordon Dorado: Hitlerismo Esoterico, p. 63) A ilha, por ser feita de “vidro
transparente”, irradiava luz própria, de modo que, quando o sol se punha por
detrás dos montes, ela permanecia resplandecente. Há, segundo Julius Evola [1],
referências à Sabedoria Hiperbórea em pelo menos seis tradições etno-culturais:
hindu, iraniana, nórdico-escandinava, chinesa, americana e greco-romana.
Todavia, com o passar das eras, o contato que nossos ancestrais
mantinham com a Sabedoria Hiperbórea foi perdendo gradativamente a intensidade originária,
processo de decadência espiritual que encontraria sua culminação máxima na
Idade do Ferro grega, na Kali Yuga hindu ou na Idade do Lobo nórdico-escandinava,
quando todos os acontecimentos se veem imersos no caos absoluto, na absoluta
desordem e confusão, quando as emanações sacras, há muito aprisionadas pelo
Demiurgo na forma do animal-homem (pasu),
o ente, nesse estado de clausura material, só consegue acessar suas divindades
hiperbóreas mediante remissões simbólicas, através dos arquétipos do
inconsciente coletivo, que passarão a ser analisados aqui sem a carga
psicológica que C.G. Jung imprimira ao termo. Jung nos servirá de referência tão-somente
no que concerne à perscrutação das raízes etimológicas do vocábulo “arquétipo”.
Nos dizeres de Jung (que fazemos questão de reproduzir na íntegra para que o
leitor tome a dimensão real do significado de arquétipo):
“Uma existência psíquica só pode ser reconhecida pela presença de conteúdos capazes de serem
conscientizados. Só podemos falar, portanto, de um inconsciente na medida
em que comprovamos os seus conteúdos. Os conteúdos do inconsciente pessoal são
precisamente os complexos de tonalidade
emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os
conteúdos do inconsciente coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. O termo archetypus já se encontrava em FILO JUDEU como
referência à imago dei no homem. Em IRÍNEU também, onde se lê: ‘Mundi
fabricator non a semetipso fecit haec, sed de alienis archetypis transtulit’ (O
criador do mundo não fez essas coisas diretamente a partir de si mesmo, mas
copiou-as de outros arquétipos). No Corpus Hermeticum, Deus é denominado
το αρχέτυπον φως (a luz arquetípica). Em DIONÍSIO AREOPAGITA encontramos
esse termo diversas vezes como ‘De
coelesti hierarchia’: αι αύλαι άρχετυπιαι (os arquétipos imateriais), bem
como ‘De divinis nominibus’. O termo
arquétipo não é usado por AGOSTINHO,
mas sua idéia no entanto está presente; por exemplo em ‘De divers is quaestionibus’, ‘ideae... quae ipsae formata e non
sunt... quae in divina inielligentia continentur’. (idéias... que não são
formadas, mas estão contidas na inteligência divina). ‘Archetypus’ é uma
perífrase explicativa do είδος platônico. Para aquilo que nos ocupa, a
denominação é precisa e de grande ajuda, pois nos diz que, no concernente aos
conteúdos do inconsciente coletivo, estamos tratando de tipos arcaicos – ou
melhor – primordiais, isto é, de imagens universais que existiram desde os tempos
mais remotos. O termo représentationis
collectives usado por LÉVY-BRUHL para designar as figuras simbólicas da
cosmovisão primitiva, poderia também ser aplicado aos conteúdos inconscientes,
uma vez que ambos têm praticamente o mesmo significado. Os ensinamentos tribais
primitivos tratam de arquétipos de um modo peculiar. Na realidade, eles não são
mais conteúdos do inconsciente, pois já se transformaram em fórmulas
conscientes, transmitidas segundo a tradição, geralmente sob a forma de
ensinamentos esotéricos. Estes são uma expressão típica para a transmissão de conteúdos coletivos,
originariamente provindos do inconsciente”. (JUNG, C. G. Os Arquétipos e o
Inconsciente Coletivo, pgs. 16 e 17)
Podemos extrair deste excerto duas informações sumamente importantes
para os fins da presente investigação: 1) distintamente do animus, conteúdo do inconsciente pessoal, singular ou individual, o
arquétipo substancializa o inconsciente coletivo, e, portanto, universal, ou
transindividual. As memórias longínquas que concorrem para a fabricação de um
arquétipo são produtos de uma linguagem cósmica, supra-terrena; logo, o que é
inconsciente para nós, seres de carne e osso confinados à matéria corpórea,
constitui fração inteligível para a consciência cósmico-simbólica. 2) O mundo
em que vivemos não é creatio ex nihilo de uma divindade benevolente que
quer nos libertar ou nos reconduzir à eternidade da qual saímos, mas creatio ex materia, ou seja: criação
secundária que parte de algo pré-existente, de uma causa primeva, ou de um
primeiro motor, em terminologia aristotélico-tomista.
Todas as coisas que conhecemos não passam de imitações imperfeitas,
obras mal acabadas do ominoso Demiurgo platônico. Podemos resumir o teor dessa
exposição preliminar da seguinte maneira: arquétipos são representações
eidéticas plasmadas no além supra-empírico em contraposição ao aqui-empírico
simplesmente dado, este último, arquitetado por desígnios demiúrgicos.
Desde que fora aprisionado na forma de animal-homem, “o virya
perdido, por sua parte, na civilização atual, sucumbiu à Estratégia sinárquica
e permitiu que em sua visão do mundo influa e predomine sua herança de pasu: o
virya tem a possibilidade de localizar o selbest e criar um Eu desperto com o
qual é possível a apreensão total do ente real, tanto em sua universalidade
quanto em sua singularidade, por que tal Eu participa do infinito atual e pode determiná-lo
todo sem ser determinado por nada. Mas enquanto o virya não desperta ficará,
como o pasu, definitivamente separado dos entes”. (ROSÁRIO, Nimrod de.
Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, parte II, tomo II, pgs 25 e 26) A
apreensão total do ente real a que alude Rosário se dá por meio da simbologia
sacra, que nos remete sempre aos Arquétipos Universais do inconsciente coletivo.
Neste sentido, Rosário assevera que “(...)
um símbolo sagrado, por haver sido separado da estrutura do desígnio, PARTICIPA
ATIVAMENTE DE UM ARQUÉTIPO UNIVERSAL. A Metafísica Hiperbórea, então, é uma
ciência “própria da esfera da luz” mas cujo objeto de conhecimento, o símbolo
sagrado, possibilita a transcendência do microcosmo que estende seu âmbito de
observação ao plano arquetípico do macrocosmo. Obviamente, a Metafísica
Hiperbórea só pode ser praticada pelos viryas e Siddhas já que nada parecido
com o conhecimento dos Arquétipos universais está permitido ao pasu” – tradução
livre do espanhol. (ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos de la Sabiduria Hiperborea,
vol. I, tomo I, p. 184) Para acessar os
Arquétipos Universais, o virya precisa
necessariamente transmigrar da esfera autônoma do microcosmo onde foi
aprisionado em forma de animal-homem para a esfera coletiva do macrocosmo,
onde, só então, despertará e passará a produzir cultura.
O Herói:
Na idade sombria que atravessamos, os arquétipos hiperbóreos são
“encarnados” por seres incumbidos da tarefa de conduzir a humanidade ao alvorecer
de uma nova Era Dourada (Satya Yuga), o que a tradição hindu interpreta como o
encerramento catastrófico do Manvantara,
quando, segundo Miguel Serrano, os pólos terrestres tornarão a se encontrar no
eixo unificado da zona polar, onde outrora se localizava o esplendoroso continente
hiperbóreo. Para os hindus, tal se evidenciará pelo advento de Kalki, o décimo
e último avatãra de Vishnu, que
descerá do firmamento montado em um cavalo branco e empunhando uma espada
flamejante para subjugar o demônio Kali, restaurando a ordem onde antes predominava
o caos. É assim que Serrano, um dos precursores da corrente gnóstica denominada
Hitlerismo Esotérico, via em Adolf Hitler [2] a personificação arquetípica do
Herói na era de Aquário, o último avatar da espécie humana, “Avatâra de um
Deus, de Wotan-Vishnú” – tradução livre do espanhol (SERRANO, Miguel. La
Ressureccion del Heroe, p. 50) Para Serrano, o Caminho do Herói tântrico se
cumpre através de três etapas alquímicas fundamentais, quais sejam: nigredo (Obra Negra), albedo (Obra Branca) e rubedo (Obra Roxa). Nas palavras do
autor:
“Segundo Leisegang, a alquimia – que, como vimos, também significa
negro – é uma síntese da técnica egípcia e do misticismo médio-oriental,
produzido em Alexandria. Mas tudo vem de mais longe. A simbologia da morte e
ressurreição é aplicada aos metais, à terra. Transforma-se o chumbo em ouro,
“mata-se” o cobre, obscurecendo-o, convertendo-o em óxido negro – é a Nigredo -; logo ele ressuscita, formando
uma mescla prateada com o mercúrio – é a Albedo
-; daí ele segue ao amarelo e ao roxo – a Rubedo
-. Negro, branco, amarelo, roxo. (‘Onde está o quarto, meu querido Timeu?’). As
cores e suas sequências eram fundamentais para o processo em Alexandria; no
metal, assim como na aura do alquimista-mago. Além disso, sob os mantos da
Cavalaria iniciática que cumpre o processo alquímico da conquista da Terra
Santa. A cruz dos templários era roxa, sobre hábito branco (Rubedo, o último processo, a produção do
Andrógino, de Rebis, de Baphomet). Os Cavaleiros da Ordem de São
João de Jerusalém (de onde se origina a atual Ordem de Malta) vestiam de roxo e
sua cruz era branca (Albedo). A Ordem
dos Cavaleiros Teutônicos, que fez nascer o Estado Prussiano, portava hábito
branco e sua cruz era negra (Nigredo).
Os SS vestiam-se de negro e sua svástika era negra sobre o fundo roxo e branco.
O processo alquímico total, segundo as necessidades na aceleração do tempo. Aos
três votos templários de castidade, pobreza e obediência, a Ordem Teutônica
agregava um quarto: jamais retroceder ante o inimigo, lutar até a morte: usque ad morten y perinde ad cadaver” –
tradução livre do espanhol (SERRANO, Miguel. El Cordon Dorado: Hitlerismo
Esoterico, p. 172 e 173)
As três Opus alquímicas (Negra, Branca e Roxa) encerram a
totalidade do processo de transfiguração do Herói tântrico rumo à imortalidade,
quando ele efetivamente se une aos Deuses Hiperbóreos no reino de Agartha. Na
tradição alquímico-hermética, conforme aduz Julius Evola em A Tradição
Hermética, essas três cores se somam aos quatro elementos naturais (terra,
água, fogo e ar), resultando no número 7, correspondente aos sete planetas do
nosso sistema solar ou aos sete chakras da cosmologia hindu. Contudo, não nos
aprofundaremos nesses pormenores; basta indicar aqui o significado das três
obras fundamentais.
A Obra Negra (Nigredo)
simboliza a morte do Herói, sua dissolução, fragmentação ou horizontalização.
Nesse sentido, Evola obtempera que o primeiro estágio da Obra hermética
consiste “(...) em proceder de tal modo que a consciência não fique reduzida e
depois suspensa no umbral do sono, mas sim que, pelo contrário, possa seguir em
todas as suas fases a realização deste processo, até uma situação equivalente à
morte. A <<dissolução>> converte-se então numa experiência vivida,
intensa, indelével, e é esta a <<morte>> alquímica, o <<mais
negro que o negro>>, a entrada na <<tumba de Osíris>>, o
conhecimento da terra escura, o regime de saturno de que falam os textos”.
(EVOLA, Julius. A Tradição Hermética, p. 130)
A Obra Branca (Albedo),
por sua vez, simboliza a ressureição: “(...) a transmutação (a primeira das
transmutações alquímicas) e ressureição. <<Quando o Branco sobrevém na
matéria da Grande Obra, a Vida venceu a Morte, o seu Rei ressuscitou, a Terra e
a Água converteram-se em Ar, é o Regime da Lua, o seu filho nasceu... Então a
Matéria adquiriu tal grau de Fixação que o Fogo já não a pode destruir
[trata-se da “estabilidade iniciática” que a morte não consegue
vencer].>> <<Quando o artista vê a brancura perfeita, os Filósofos [herméticos]
dizem que chegou o momento de queimar os livros, porque então estes já são
inúteis.>>” (EVOLA, Julius. A Tradição Hermética, p. 158)
E, por último, temos a Obra Roxa (ou Vermelha - Rubedo), quando “o Eu transforma-se
naqueles actos e é aqueles actos – os
<<Fogos Saturnais>>, os deuses da <<Idade de Ouro>> -,
até ao ponto de reduzir por completo a própria individuação em função e em
valor de <<natureza que se domina a si mesma>>, e até reduzir a
corporeidade a alguma coisa que nada exprime melhor do que este mesmo domínio
que faz com que se possa atribuir-lhe a púrpura, o ceptro, a coroa e todos os
demais elementos simbólicos da realeza e do império. Só então a
<<regeneração>> é total”. (EVOLA, Julius. A Tradição Hermética, p.
179)
Somente na rubedo o
Herói se funde à eternidade hiperbórea juntamente aos Deuses da Idade de Ouro,
à chama ígnea do extremo-norte polar, sendo, antes, imperativo que atravesse a negredo (morte) e a albedo (ressurreição). Não é despiciendo salientar que esta morte
do nigredo não deve ser confundida
com a morte do sepulcro, com o morrer para o nada, e sim uma morte para a vida.
Inclusive, ário (aryo, em sânscrito)
significa “nascido duas vezes”, ou “renascido”. Dessarte, a superioridade
ariana não decorre tanto de caracteres bio-raciais quanto de atributos
espirituais. Todas as tradições que mencionamos no início nos apresentam o
ariano como o portador do espírito guerreiro, é dizer: do arquétipo solar do
Herói tântrico, fadado ao renascimento em Walhalla após quedar bravamente no campo
de batalha, ao lado de seus camaradas.
Passaremos agora a analisar outros quatro arquétipos: o Chefe, a
Montanha, a Valquíria e o Arquétipo Gravis.
O Chefe:
O arquétipo do Chefe segundo Miguel Serrano possui uma importância
secundária, de tal sorte que sua manifestação terrena ou encarnação se encontra
hierarquicamente subordinada ao arquétipo do Herói. Não obstante, ambos coexistem
sincronisticamente no plano terrestre regido por desígnios demiúrgicos, porque
participam de uma mesma missão, e possuem uma única finalidade (thelos), qual seja: encerrar o Kali Yuga
e guiar a humanidade em direção ao reino hiperbóreo. É assim que podemos
vislumbrar nas figuras históricas de Mussolini, Salazar e Cordreanu atributos
típicos do Chefe, pontos soltos que convergem para o epicentro gravitacional do
Führer prinzip. Nos dizeres de
Serrano:
“Antes da aparição de Hitler, os Arquétipos do Führer e do Chefe
se vinham insinuando. Primeiro no Duce italiano, em Oliveira Salazar, em
Cordreanu. Era algo assim como premonições, sonhos. Sem embargo, só em Hitler encontra
sua expressão quase absoluta, seu vórtice, seu transmissor mais perfeito, sem
deixar por isso de participar, como em um jogo de espelhos, também em outros;
aqui mais, ali menos. E assim vão aparecendo Leon Degrelle, na Bélgica; José
Antonio Primo de Rivera, na Espanha; Plinio salgado, no Brasil; Doriot, na
França; Jorge González von Marées, no Chile, e até Subhash Chandra Bose, na
Índia. Eu repito, unicamente em um só homem, em Hitler, se acumula a potência
superior do Arquétipo Hiperbóreo, do Deus, só através dele faz ouvir sua
palavra de outro mundo. Porque só ele escuta sua Voz. Mas não sempre, porque nesse caso explodiria em mil pedaços” –
tradução livre do espanhol (SERRANO, Miguel. Adolf Hitler, El Último Avatãra,
p. 34)
Depreende-se que a encarnação arquetípica do Chefe se fragmenta em
vários eixos ao redor do globo, estando, sem embargo, sincronizada com a
consciência cósmica do arquétipo do Herói. Em outras palavras: a existência do
Herói não é condicionada pela existência do Chefe, mas o Chefe depende inteiramente
do Herói para desempenhar seus contributos essenciais, vez que só existe para
ele e por causa dele.
A Montanha:
Em Adolf Hitler, O Último Avatãra, Miguel Serrano nos conta que
sempre viveu entre as montanhas de cumes nevados do Chile, as quais acreditava
serem moradas de gigantes adormecidos que outrora caminhavam entre nós. A Montanha,
prossegue Serrano, constitui objeto de culto religioso entre uma vasta gama de
tradições consagradoras de figuras heroicas e semi-divinas. Tradicinalmente, os
arianos sempre procuraram se fixar em grandes altitudes rochosas que lhes proporcionassem
uma maior proximidade com o deus-sol. “Desde então, penso que as montanhas
estão habitadas por gigantes; mais ainda, que as montanhas mesmas são gigantes
petrificados, que ali se imobilizaram, se revestiram da rocha, quando o Antigo
Sol se foi. E esperam seu regresso, para sair de novo a habitar o mundo. Será o
fim do Kali Yuga” – tradução livre do espanhol. (SERRANO, Miguel. Adolf Hitler,
El Último Avatãra, p. 152)
Do alto da Montanha, tudo o que é pequeno, baixo, inferior, cede
espaço ao grande, alto e superior, ao Sol que brilha por trás de outros tantos sóis:
o Sol Negro (Schwarze Sonne) da
runologia escandinava, o “Raio Verde” que a tudo ilumina, desde a aurora
dourada da humanidade, sem ser iluminado por nada além de si próprio. É desta
fonte de luz primordial que deflui toda a beleza paisagística, de cuja dimensão
espiritual o pasu não participa por se ver trancafiado nas latitudes da matéria
bruta. Nesse diapasão, a beleza que se descortina diante dos nossos olhos não
passa de uma cópia da beleza original, hiperbórea, que só podemos acessar
indiretamente, mediante remissões simbólicas. Daí a constatação de que o
objetivo dos símbolos é revelar ao ente o sentido daquilo que está por trás dele.
Símbolos são portais para a dimensão subjacente dos virya.
Para Serrano, a Montanha simboliza o “corpo do homem”, “mas, do
Homem Astral, do Homem Hiperbóreo, do Siddha, do Divya, do Urmensch. Ele é
o Sahú egípcio, o “Corpo da
Ressureição” de Osíris. Assim, sua fisiologia é a hermética, a astral, a ária.
Por exemplo, meus gigantes seriam os dos nâdi,
o nervo da fisiologia tântrica. Idâ,
o lado esquerdo de Meru-danda, é
dizer, da Coluna Vertebral etérica, e Pingalâ,
o lado direito. Sua contrapartida na fisiologia física são os cordões de
gânglios, juntamente da espinha dorsal. Nascem no Chakra Mulâdhâra, ou seja, no
plexo pélvico e se cruzam, indo o primeiro a terminar na narina direita e, o
segundo, na esquerda. Pelo centro de Meru-danda
ascende Sushumânâ, até o crâneo,
juntando-se no cérebro com o Chakra Sahasrarâ. Por aqui sobe a Serpente de
Fogo, Kundalini. Ela é a Bela Adormecida do Monte Meru, na Carna de
Kyffhäuserberg, é a Amada Imóvel, gelada, hibernada, que despertará na base da
Montanha Mágica, no Chakra Muladhara, precisamente. Meu gigante do lado
esquerdo, com os braços levantados, a Runa Man,
é Idâ, o outro é Pingalâ, a Runa Yr. A
Montanha é o templo e o Corpo do Homem-Deus, de Wotan, do Urmensch. Sushumnâ, que
nasce no sacro, o terceiro nâdi, o do
meio; este é o mais importante, o gigante ainda invisível, o “devorador do
tempo” (Saturno), o que entrega a imortalidade; é a Runa Hagal, que nos conecta com o topo do Monte Meru, onde se realiza a
Boda Mágica dos outros dois, de Idâ e
Pingalâ (Shiva e Parvati)”. (SERRANO,
Miguel. Adolf Hitler, El Último Avatãra, p. 157)
Em artigo intitulado A Montanha Simbólica, Martínez de Pisón [3] colaciona uma quantidade astronômica de aspectos culturais, geográficos,
mitológicos e religiosos que conferem à Montanha um caráter tipicamente
simbólico-arquetípico, chegando a mencionar até mesmo a montanha do hemisfério
austral de Dante Alighieri, conforme se verifica na seguinte passagem:
“No alto se encerram signos
do que é bom e leve, do que vence o peso, do celeste; o espiritual ascende; em
contrapartida, a matéria pesa e a vida precisa lutar contra o peso. A elevação
é, portanto, uma qualidade e o cume é o seu êxito, a vitória sobre os
obstáculos materiais mediante um esforço, sua recompensa moral. Tudo isso
sacraliza a montanha e a sua ascensão. É o esforço que consegue a entrada em um
domínio alheio e aberto entre linhas aéreas – sugestão do infinito -, em
espaços grandes, no distanciamento progressivo do basal e de seus labirintos.
De modo que a dualidade baixo-alto se polariza em dois ambientes contrapostos,
o alto como cenário de natureza, solidão e individualização; e o baixo como
mecanizado, massificado e gregário. Tudo isso são modelos culturais. Mas o
baixo também é o terreno, o mundano, o subterrâneo, inclusive o infernal e, em
contrapartida, o alto é o celeste e o divino. Sem distanciar-nos, vemos o mesmo
em culturas populares, em misteriosos ambientes exóticos, em difíceis poetas
místicos ou no próprio Dante”.
Portanto, o arquétipo da Montanha, como “Templo e corpo do
Homem-Deus”, constitui nada menos do que um foco de ascensão transcendental do
espírito petrificado, neutralizado, imobilizado, esquecido entre as ruínas de
uma era primitiva. O papel-missão da estirpe ariana, montanhista por
excelência, é buscar alcançar seus cumes rochosos para que possa, a partir
deles, captar a beleza subjacente à paisagem mental do Demiurgo. A Montanha em
si mesma, como o Herói, o Chefe e os demais arquétipos hiperbóreos, nada
significa, pois não possui valor numênico (de coisa-em-si). O arquétipo,
segundo Nimrod de Rosário, é sempre um “ser-para” alguma coisa que está além
dos nossos perceptos mais imediatos. Isso ficará mais claro quando discorrermos
sobre o Arquétipo Gravis.
A
Valquíria:
Presentes na tetralogia operística de Richard Wagner, as
Valquírias são descritas nas Edda
como mensageiras de Wotan, incumbidas de conduzir os guerreiros caídos em batalha
aos salões de Walhalla, onde Odin os recrutaria para lutar ao seu lado no Ragnarök (o Crepúsculo dos Deuses). Para
Serrano, as Valquírias eram as magas hiperbóreas em Ultima Thule, esposas dos
deuses solares na eternidade pré-cósmica, as “Amadas Eternas”. Segundo o autor,
os deuses de todas as religiões pré-cristãs haviam desposado divindades
menores. “Todos os Deuses tinham suas esposas, suas amadas, exceto o Deus
judaico-cristão. Jeová não a tinha, tampouco seu filho Jesus Cristo. Krishna
nos anuncia no final do Dwapara Yuga e início do Kali Yuga. Dança com muitas
mulheres, com as vaqueiras de Gokul, nos jardins de Vrindaván; mas na verdade
ama uma só, a Radha. Aqui começa a intuir-se, melhor dizendo a encarnar-se, a
descender o Arquétipo Hiperbóreo da Valquíria. Porque ainda quando as mulheres
através das quais se busca a Ela perdida são muitas, a Mulher-Absoluta, a
Mulher-Divina é uma só e, desde algum lugar fora do Universo, se nos assinala
como insubstituível, irrepreensível. Para Krishna era Radha, a Parakiya, a
esposa de outro. Só em momentos especiais ela abandonava seu marido e vinha
dançar com seu Deus, que a espera eternamente” – tradução livre do espanhol. (SERRANO,
Miguel. Adolf Hitler, El Último Avatãra, p. 169)
O judaico-cristianismo seria, então, o principal responsável pela
cisão da androginia primitiva, e, de conseguinte, pela separação dos princípios
masculino e feminino, que antes participavam de um mesmo núcleo, por assim
dizer, assexuado. Tal se evidencia pela eclosão do Ovo Primordial da cosmogonia
órfica, da qual o Demiurgo retiraria o simulacro de ordem estruturado a partir
de dualidades, multiplicidades e decomponibilidades. O unum mundum é dividido em várias frações menores que
concorrem para formar o totem (todo) pseudo-ordenado.
Este último, a seu turno, não guarda a menor similitude com o universo
arquetípico, hiperbóreo. É assim que “a divisão do Ele e Ela, a ruptura do Ovo
Órfico, Hiperbóreo, repercute na Guerra, separando-se assim para poder entrar em
combate em um Universo dividido em pares de opostos, corrompido pelo Demiurgo
Jeová. São os heróis, guerreiros e guerreiras, Astros, Allouine, Lucifer,
Lilith e alguns outros que ainda tratam de resgatar e transfigurar a terra,
derrotando o Senhor das Trevas, destruindo seus Arquétipos, libertando seus
prisioneiros e encontrando a Saída da
Roda Infernal do Eterno Retorno – tradução livre do espanhol. (SERRANO, Miguel.
Adolf Hitler, El Ultimo Avantãra, p. 169)
Também são feitas considerações relativamente ao Arquétipo
da Valquíria e a eclosão do Ovo Ultra-Cósmico em Manú – “Por El Hombre que Vendra”, consoante
se extrai da seguinte passagem:
“O Herói, já dissemos, busca a sua mulher em todas as mulheres, até se convencer de que unicamente
dentro a desposará, interiorizando-a. Sem dúvida que a castidade sacra do
guerreiro é o ideal deste Combate, sendo o matrimônio externo e profano um
perigoso erro para o mago-iniciado. Quando o Vîra chega a encontrar-se com a “Ela” de ELAELE, que foi a A-Mada
de ELEELA, no céu do Raio Verde, e que nesta Ronda do Eterno Retorno aparecerá
como sua Valquíria, sua Allouine, sua Medéia, sua alma se acenderá, podendo terminar
sua peregrinação, pois haverá encontrado um Rosto
para sua anima, para sua ela. Será o
Meio Dia do Eterno Retorno e da Revelação”. (SERRANO, Miguel. Manú - “Por El
Hombre que Vendra”, p. 61)
Dessarte, a Valquíria simboliza a recomposição da unidade
espiritual, tipicamente hiperbórea. O Eros que acende a chama do sagrado
matrimônio selado entre o virya e a
Mulher-Absoluta, sua cara-metade, nada tem a ver com a representação demiúrgico-mundana
dos princípios masculino e feminino, mas com o estado puro de androginia, dado
que toda divisão não pode se manifestar senão em uma dimensão essencialmente
profana e anti-espiritual. Tal decorre do simbolismo órfico do Ovo Primordial e
ao fato de, na condição de pasu, o homem se encontrar preso à Lei do Eterno
Retorno, da qual ele deverá se libertar caso queira despertar como ariano
legítimo. Se na concepção de Julius Evola a distinção entre o solar (masculino)
e o lunar (feminino) é bastante recorrente, em Miguel Serrano estes princípios
estariam subordinados a um mandamento ainda mais primordial na hierarquia
cósmica. Para este último, só possui valor arquetípico aquilo que se encontra
plasmado ou solidificado em um único centro magnético, qual seja: a Sabedoria
Hiperbórea.
O Arquétipo Gravis:
Em Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, Nimrod de Rosário define
o Arquétipo Gravis como aquele que ocupa o topo da hierarquia arquetípica, e,
por isso mesmo, o mais importante, “o arquétipo cujo processo é o mais veloz
que qualquer outro no plano material”. (ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos da
Sabedoria Hiperbórea, vol. II, tomo II, p. 35). É o arquétipo sem o qual os
demais arquétipos ficariam impossibilitados de se manifestarem. Para desenvolver
sua explanação acerca da Teoria Gravis, Rosário ataca duas teses, que doravante
passaremos a analisar: a do centro de gravidade de Isaac Newton e a monadologia
de Leibniz. De introito, registre-se que a fórmula geral da Teoria Gravis é, de
acordo com Rosário, a seguinte: “O CAMPO GRAVITACIONAL É A POTÊNCIA DE UM
ARQUÉTIPO PSICÓIDEO” (Rosário, Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea,
vol. II, tomo II, p. 34)
Segundo Rosário, existe um escalonamento arquetípico que
começa a se desdobrar nos rincões mais longínquos da esfera do ser e “desce”
até alcançar o plano material. O Arquétipo Gravis, situado no vértice superior
da pirâmide hierárquica está acima de todo e qualquer arquétipo universal do
inconsciente coletivo pelo simples fato de sua ação supra-cósmica incidir
diretamente sobre o espaço cósmico. Foi justamente desta matriz arquetípica
primordial que o Demiurgo se valeu para imprimir ordem ao caos. A matéria que
segundo os físicos “dobra” o espaço decorre substancialmente do Arquétipo
Gravis. Nos dizeres de Rosário: “A Sabedoria Hiperbórea denomina ‘gravis’ tanto
o Arquétipo universal como os entes por ele produzidos, por dizer, a ‘espécie
gravis’. Os ‘gravis específicos’ são os conjuntos dos ‘átomos arquetípicos’ que
sustentam e impulsionam espacialmente a matéria, que lhe dão ‘amplitude’. O
Arquétipo gravis com sua unidade manifesta-se nos gravis específicos que
subjazem em todo o ente: por isso em todo o ente concreto, em todo corpo
material, em toda coisa substancial, está presente como substrato primeiro o
Arquétipo gravis. Mas tal instância de um no múltiplo não pode dar-se de outra
forma que como participação: os entes materiais participam da enteléquia gravis
ou, com outras palavras: em todo ente está presente a enteléquia potencial
gravis (...)” (ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol.
II, tomo II, p. 35)
Isso ocorre porque, onticamente, o Gravis é materialmente mais
veloz do que qualquer outro Arquétipo, que nele participam como mera
possibilidade (o vir-a-ser da enteléquia potencial) até penetrarem no núcleo
que os físicos denominam “campo gravitacional”. Mas, adverte Rosário, estamos
falando em termos rigorosamente ôntico-processuais, que nada têm a ver com a
essência ontológica do Arquétipo gravis. “A raiz desta elevada velocidade de
resposta, do ‘nexo quase instantâneo’ entre o plano arquetípico e o plano
material, é que o arquétipo gravis pode ser reproduzido pelo demiurgo em toda a
extensão espacial do macro-cosmo, por dizer, em todo ponto do universo, em uma
pluralidade de ‘átomos arquetípicos’. Esses átomos arquetípicos são a
manifestação ôntica do Arquétipo gravis, os ‘gravis específicos’ (...)”
(ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II, tomo II,
pgs. 35 e 36)
Tendo em vista essas considerações, Rosário argumenta que
Newton estava certo quando assinalou a existência de uma relação entre a massa que
dobra o espaço e a força gravitacional que lhe confere amplitude, posto que a
massa, composta por átomos arquetípicos, participa da enteléquia potencial do
centro de gravidade que, a seu turno habita uma espécie de zona pré-espacial
denominada tempo transcendental. É dessa dimensão arquetípica do tempo
transcendente que, impulsionado pelo desígnio demiúrgico, o espaço métrico ou
quantitativo adquire forma; isso não quer dizer que o arquétipo gravis
determina a forma do espaço, até mesmo porque uma das características do gravis
é a indeterminação formal, o que significa que ele apenas “(...) possui uma
potência que o impulsiona a despregar-se em um processo evolutivo” (ROSÁRIO,
Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II, tomo II, p. 36).
O erro de Newton, segundo Rosário, que viria a se transmitir
a todos os físicos posteriores a ele, recai sobre o fato de ter qualificado a
natureza desta relação entre massa e força de gravidade como uma relação
causal, em que a massa seria a causa do efeito campo de gravidade. “A realidade
é que, se bem a ‘força gravitacional’ está relacionada matematicamente com a
massa, não é ela sua ‘causa’, senão que, à sua vez, a massa é efeito concreto,
o ato, do Arquétipo gravis. A ‘força gravitacional’ é, assim, a ação de uma
potência arquetípica que procede desde a enteléquia e ‘atrai’ até sua
enteléquia, que alguns denominam ‘centro de gravidade’” (ROSÁRIO, Nimrod de.
Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II, tomo II, p. 38) Dessarte, enquanto
a Física advoga a tese de que ao redor da Terra existe um campo de gravidade, a
Sabedoria Hiperbórea defende que neste mesmo lugar existe o ato da potência do
Arquétipo gravis, que nunca é um processo completo, mas sempre um vir-a-ser-para
o núcleo da enteléquia potencial (o centro de gravidade).
Já o erro de Leibniz reside em sua teoria monadológica,
regida pelo principio de identidade das coisas indiscerníveis (principium identitatis indiscernibilium),
de acordo com o qual o criador do mundo não poderia criar duas coisas
idênticas, uma vez que, se são idênticas, seriam uma única e mesma coisa. Tal
princípio viria, segundo Rosário, a limitar inconscientemente todo o alcance da
epistemologia ocidental e do pensamento científico em geral. Nesse sentido,
obtempera: “o importante é que a teoria gravis contradiz o principium; e o faz
porque tal principium é completamente falso. A Sabedoria Hiperbórea afirma que
‘pode haver duas coisas iguais’ e assinala como exemplo as enteléquias potenciais
dos entes externos, a seus núcleos indiscerníveis, ou aos ‘centros de
gravidade’ determinados pelo Arquétipo gravis”. (ROSÁRIO, Nimrod de.
Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol II, tomo II, p. 38) O que fundamenta
esse posicionamento rosariano em face da monadologia de Leibniz é a tese do
“ponto indiscernível”, que pode ser explicada mais facilmente através de um
exemplo dado pelo próprio autor: se imaginarmos uma esfera oca, cujo centro de
gravidade não pode ser abstraído mediante nenhum ponto específico da matéria
bruta, seríamos forçados a buscar na dimensão extra-cósmica do tempo
transcendental – é dizer, fora do espaço cósmico – o processo do ente rumo a um
ideal de perfectibilidade que culminará no centro de gravidade, ou no arquétipo
gravis.
O processo em si atua sempre na potência do gravis como
vir-a-ser, razão pela qual ele foge completamente ao espectro do observador
externo. A enteléquia seria, portanto, “o aspecto futuro do Arquétipo gravis. Que
cabe esperar então, do ‘centro de gravidade’, segundo a Sabedoria Hiperbórea?
Um ponto indiscernível, por assim dizer, um ponto que contradiz o principium
identitatis indiscernibilium de Leibniz. Ocorre assim porque a enteléquia, em
tanto que perfeição final do Arquétipo é o arquétipo mesmo: DESDE A ENTELÉQUIA,
O GRAVIS POMOVE UM PROCESSO QUE NÃO PODE INTERROMPER-SE E QUE VAI DESDE A
POTÊNCIA (campo gravitacional) ATÉ A ENTELÉQUIA (centro de gravidade) QUE ESTÁ
NO FUTURO; TAL CAMINHO PROCESSUAL ABRE UMA BRECHA NO ESPAÇO, O ‘DISTORCE’,
PRODUZINDO UM CONTATO TOPOLÓGICO ENTRE PLANOS DIFERENTES. Em rigor da verdade o
que ocorre no ‘ponto indiscernível’ é que a enteléquia ‘regenera’ um ponto do
espaço transformando-o em tempo; o ‘eleva’, se quiser”. (ROSÁRIO, Nimrod de.
Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II, tomo II, p. 40) Haveria, então,
coincidência espacial entre o campo gravitacional da potência e o centro de
gravidade da enteléquia, mas não coincidência temporal, como conclui Rosário,
porque o “tempo” que sedia esse processo não é o tempo cronológico,
convencional, mas o tempo transcendental.
Depreende-se, de todas as considerações expendidas neste
tópico, que o espaço é como se fosse uma dimensão secundária, ou, nas palavras
de Rosáro, um “segundo grau do tempo transcendente”, na medida em que ele só se
manifesta se estiver em relação com a matéria, é dizer, se a matéria for a causa
da qual o espaço é o efeito, e se, como observamos, a matéria participa do
processo do Arquétipo gravis sem poder escapar à sua “potência plasmadora” e a
operacionalidade desse processo se dá no tempo transcendente, temos que “(...)
o espaço é CAUSADO pelo tempo transcendente mediante a matéria organizada pelo
gravis”. (ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II,
tomo II, p. 39) O gravis é, portanto o arquétipo primordial, conditio sine qua non da manifestação
espacial dos demais arquétipos universais do inconsciente coletivo.
Considerações Finais:
De todo o acima exposto, conclui-se que os Arquétipos
Hiperbóreos do inconsciente coletivo somente podem ser acessados pelo virya desperto, o espírito ariano
confinado à matéria grosseira do animal-homem pelo Demiurgo platônico quando da
criação do mundo a partir do Arquétipo gravis, de cuja enteléquia ou centro de
gravidade o ente material participa de maneira potencial, como um vir-a-ser na
Lei do Eterno Retorno. Todos os outros
Arquétipos (do Herói, do Chefe, da Montanha e da Valquíria) fluem através da dimensão
ultra-cósmica do tempo transcendente, onde, conforme ficou registrado, ocorre o
desdobramento processual de libertação do espírito puro da esfera autônoma do
microcosmo para a esfera coletiva do macrocosmo. A batalha escatológica travada
entre as forças hiperbóreas da Idade de Ouro da humanidade e os influxos
demiúrgicos que no crepúsculo do Satya Yuga fizeram eclodir o Ovo Órfico,
banindo os deuses da Ultima Thule desta dimensão profana, vem ocorrendo desde o
início dos tempos, de tal sorte que, ao deixar este plano de existência, seus
mártires são “arrebatados” em direção à eternidade, ao reino de Agharta.
Agradecimentos
Especiais:
Aos camaradas Raphael Machado, Uriel Irigaray e Elias
Fregonezi (pela indicação das referências bibliográficas), Maurício Oltamari
(pelos esclarecimentos prestados acerca de Serrano e Rosário) e Arthur Nasguewitz (pelas discussões sobre mitologia
nórdica), sem os quais o presente artigo não teria sido escrito.
NOTAS:
[1] EVOLA, Julius. Revolta Contra o Mundo Moderno, p. 255 á
260.
[2] A ideia de que Hitler foi o último Avatãra, é apenas uma
dentre várias concepções da realidade. Além desta, temos, por exemplo, a de
Alexandr Dugin em Rusia: El Misterio de Eurasia, onde o autor sustenta a tese
de que os russos ainda esperam pelo advento do Herói hiperbóreo – avatãra russo
– nos seguintes termos: “a gnosis hiperbórea da Santa Rússia, em completa
harmonia com a soteriologia ortodoxa, conhecia a necessária chegada dos tempos
obscuros, conhecia a existência do Dragão do ‘Mar Negro’ e previa o avanço da
meia-noite cósmica, do inverno cósmico. Mas ainda sabendo-o, a consciência
russa possuía o convencimento absoluto de que seria justamente nesses momentos
de aparente vitória das forças ‘meridionais’ e demoníacas quando do centro
espiritual e invisível da Tradição chegaria o Herói Celestial, o Salvador, o
verdadeiro Tsar e Senhor do Cosmos Sagrado, do Círculo Setentrional, o
Pantocrator, o ‘Senhor Todo-Poderoso’. E
hoje a Rússia transborda por uma misteriosa espera do Milagre, do Milagre do Ano
Novo, da quase impossível Vitória do Grande Sol sobre a obscura força do
Anticristo. Em correspondência com as leis de sua própria geografia sacral,
a alma russa crê que o salvador da Rússia será um Salvador Russo, um Avatâra hiperbóreo que deverá manifestar-se no
coração da Pátria Sagrada, no Coração de Ouro da Rússia e que virá como um Cavaleiro montado sobre o cavalo branco,
como um Herói, como um Bogatir, como o Ressuscitado e, ao mesmo tempo, Eterno e
poderoso Filho do Deus Absoluto”. (DUGIN, Alexandr, Rusia: El Misterio de
Eurasia, p. 99)
[3] PISÓN, Martínez de. A Montanha Simbólica, disponível em: http://legio-victrix.blogspot.com.br/2015/12/martinez-de-pison-montanha-simbolica.html
REFERÊNCIAS:
JUNG, C. G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Editora
Vozes: Rio de Janeiro, 2000.
EVOLA, Julius. A Tradição Hermética. edições 70.
SERRANO, Miguel. El Cordon Dorado: Hitlerismo Esoterico. Editorial
Solar: Santa Fé de Bogotá, 1992.
SERRANO, Miguel. Adolf Hitler,
el Último Avatãra. Editorial Solar: Santa Fé de Bogotá, 1987.
SERRANO, Miguel. Manú - “Por El Hombre que Vendra”. La Nueva Edad:
Santiago, 1991.
ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos de la Sabiduria Hiperborea, vol.
I, tomo I. Orden de Caballeros Tirodal de la Republica Argentina.
ROSÁRIO, Nimrod de. Fundamentos da Sabedoria Hiperbórea, vol. II,
tomo II. Ordem dos Cavaleiros Tirodal da República Argentina.