por: Gustavo Aguiar
'O Alquimista' de Paulo Coelho é um
daqueles livros de ficção que se destacam pela capacidade de transmitir
verdades complicadas de uma maneira absolutamente simples, direta e sem aquela atmosfera
misteriosófica típica de best sellers sensacionalistas que têm as tradições
esotéricas como pano de fundo.
Em outras palavras: Paulo Coelho não escreve
para eruditos ou pessoas interessadas em redescobrir a pólvora. Talvez esse seja
o grande motivo por trás dos ataques sistemáticos que recebe de críticos
literários que ganham a vida encontrando defeitos onde eles, muitas vezes, não
existem.
É surpreendente o modo como o
autor consegue compor o enredo a partir de uma condensação – não necessariamente
simplificada, diga-se de passagem - do simbolismo alquímico-hermético, presente
desde o início na jornada do pastor Santiago em direção ao descobrimento de um
suposto tesouro escondido nas Pirâmides do Egito.
Cada personagem que cruza o
caminho do protagonista se comunica com ele por meio de uma linguagem de sinais
(A Língua do Mundo), e o papel de Santiago se limita a escolher segui-los ou
ignorá-los, sabendo que, no segundo caso, ele não estará mais distante do
tesouro prometido, porque tudo o que vive tem duas faces, e elas não são de
modo algum irreversíveis.
Há circunstâncias em que, por um
lado, os sinais se desvelam como atalhos, mas, por outro, escolher não
segui-los pode redundar em ganhos colaterais que recolocarão o intérprete no
encalço, desta vez mais preparado e menos cético em relação ao surgimento de futuras
oportunidades.
Mas o graal da obra-prima de
Coelho reside na habilidade em mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, a
Arte Régia não é propriedade exclusiva de uns poucos gatos pingados agraciados
com o beneficio da instrução, uma vez que existem ‘n’ maneiras de se viver a
sua Lenda Pessoal que não através de livros técnicos e uma sabedoria restrita a
membros de confrarias secretas; afinal, ‘assim como todas as coisas vieram do
Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação’, conforme uma das mais
proeminentes passagens reveladoras da Anima Mundi gravada na Tábua de Esmeralda
de Hermes Trismegistus. Esse é, aliás, o papel do Inglês: mostrar a Santiago o
fracasso inevitável da erudição vazia e da sabedoria livresca.
Óbvio que se você pega 'O
Alquimista' para ler já tendo adquirido alguma familiaridade com o estudo teórico
da alquimia propriamente dita, os símbolos espalhados pela obra e a importância
de cada personagem na arquitetura da história tornar-se-ão mais facilmente
identificáveis e a trama soará menos como um livro de autoajuda sentimentalóide
e mais como um incentivo pessoal.
De qualquer sorte, uma conclusão é inevitável: assim como a
Pedra Filosofal, capaz, em tese, de transformar metais vulgares em ouro puro, o
‘tesouro’ escondido nas Pirâmides do Egito não é um composto físico, mas uma
riqueza inimaginavelmente mais valiosa e duradoura: a chave para a boa vida na
Terra, propósito e finalidade máxima da construção da Grande Obra.